terça-feira, 15 de novembro de 2011

A experiência de voltar a morar no Brasil

O post Brincar-es faz referência ao 1º Seminário Brincar-es sobre bilinguismo e legislação para estrangeiros, que aconteceu em Madrid no dia 22 de outubro.

Vários documentos foram distribuídos aos participantes do seminário, entre eles um interessante depoimento escrito por Andreia Moroni, sobre o desenvolvimento linguístico de seus filhos após a volta da família ao Brasil, que merece ser compartilhado com os leitores do blog.

Conheci a Andreia através da blogosfera na fase inicial de Filhos Bilíngues e desde então tenho muita admiração pelo seu apoio ao Projeto Brasileirinhos, que incentiva o ensino de português para filhos de brasileros residentes em Barcelona.

Pedi a Andreia que escrevesse uma introdução para seu depoimento, contando um pouquinho sobre ela e sua família. Abaixo, a informação recebida e o depoimento distribuído no seminário em Madrid.

Agradeço a Andreia pela colaboração e a parabenizo por suas iniciativas em prol da educação infantil.


Andreia Moroni e sua família bilíngue
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“Meu nome é Andreia Moroni, tenho 30 anos e morei em Barcelona por quase 8 anos. Em agosto me mudei para Campinas - SP, minha cidade natal, com a família. Sou mãe do Mateo, 5, e da Ana Sofia, 2, ambos nascidos em Barcelona. O pai das crianças e meu companheiro, Juan Pablo, é mexicano. 

Em Barcelona, o sistema linguístico da família era OPOL: eu falava em português com as crianças, o JP em espanhol e, entre eu e o JP, também falávamos espanhol. Além dessas duas línguas, as crianças também aprenderam o catalão, língua oficial do sistema de ensino. Isso para vocês entenderem um pouco como era nossa dinâmica. Agora, no Brasil, mudei de time e estou falando só em espanhol com as crianças - MLH - e parece que está dando certo.

Entre as muitas coisas que fiz e faço, ajudei a fundar a Associação de Pais de Brasileirinhos da Catalunha e a organizar as aulas de português para crianças do Projeto Brasileirinhos em Barcelona (informações: presidentebrasileirinhos.bcn@gmail.com e brasileirinhos.bcn@gmail.com, respectivamente).

O blog Filhos Bilíngues foi uma descoberta saboreada com alegria pelas famílias que participam dos dois projetos, e é um grande prazer ter minhas palavras compartilhadas aqui. Muito obrigada, Claudia.


Sobre a experiência de voltar a morar no Brasil

Por Andreia Moroni para a Associação de Pais de Brasileirinhos na Catalunha e para o Brincar-es.

Queridos pais e mães de brasileirinhos, achei que seria válido compartilhar com vocês um pouco da experiência de voltar a morar no Brasil com dois filhos pequenos nascidos em Barcelona, que aprenderam a falar português aí. Acho que pode ser útil principalmente para os pais de crianças que não querem falar em português.

Chegamos ao Brasil há dois meses. O Mateo fez 5 anos dia 30 de setembro e a Ana Sofia está com 2, ainda começando a falar. O pai deles é mexicano e em casa falávamos mais em espanhol, embora eu sempre tenha falado com os dois em português. O Mateo era uma criança que entendia tudo em português, mas usava pouco a língua. Que ele tomasse a iniciativa de falar em português era algo que acontecia muito raramente. Mas acontecia.

Chegando aqui, ele não demorou nada em se soltar e se virava muito bem em português, segurava perfeitamente a onda de longas conversas 100% em português – com a família e o entorno. Tinha sotaque, sim, e construía algumas frases gramaticalmente meio estranhas, mas hoje, dois meses depois, já é praticamente um "nativo".

Queria que outras famílias soubessem que esse pequeno "milagre" pode acontecer, que de repente aquele seu filho que você achava que não falava português tem potencial para deslanchar. Mesmo que não tenham uma mudança para o Brasil nos planos, um ambiente estimulante é importante. O Mateo e a Sofia iam ao Projeto Brasileirinhos, comandado pela Marina Dias, uma das idealizadoras do projeto, e às aulas de música da Anna Ly (ambos em Barcelona), o que criou um círculo de amiguinhos e suas famílias que são referência de Brasil e da língua. Mas não há estímulo maior que você, pai ou mãe, falando com a criança. Mesmo que a criança não responda em português para você.

Acho importante outras famílias saberem do tal do "bilinguismo passivo" (explicado aqui), de tudo aquilo que eles aprendem sem necessariamente externalizar, para não achar que nosso esforço é em vão. Não é porque eles não falam que não sabem falar ou não poderão falar.

No caso do Mateo, saber português ajudou muitíssimo à adaptação dele aqui, ao "novo tudo". Mesmo que não seja esse o caso do seu filho, saber um idioma a mais é sempre uma vantagem. Como a Claudia, do blog “Filhos Bilíngues”, uma vez me disse: "já vi filhos de pais estrangeiros que se arrependeram dos pais não terem ensinado o idioma a eles. Porém, nunca vi o contrário acontecer, de alguém ter se arrependido por ter aprendido a língua dos pais".

Então, pais, não desanimem e continuem falando em português com as crianças. Outros lembretes úteis:

- Não falar em portunhol.

- Não forçar nem obrigar a criança a falar.

- Leve-a para fazer atividades gostosas e legais com outras crianças em português.

- Crie um vínculo afetivo entre a criança e a língua, com você e com outras experiências prazerosas e pessoas queridas, como família e amigos.

- Desperte a curiosidade dela pelo Brasil, qualquer coisa serve de ponto de partida – jogos, comidas, feriados, brincadeiras etc.

- Tenha orgulho de ser quem você é, brasileiro e falante de português. Se você mostrar que gosta, ela vai gostar. Se você sentir vergonha e transmitir a ela a idéia de que falar português foi uma desvantagem na sua vida, ela vai pensar assim também.”


***

2 comentários:

Anônimo disse...

Obrigado Andréia pelo teu magnífico relato.
A parte de compartir tua experiência proporcionas dicas muito uteis poder colocar em prática duas línguas embaixo de um mesmo teto.
P. V.
Psicólogo

Cecilia disse...

Claudia, encontrei teu blog sem querer, pesquisando no Google, e ja gostei. Andreia, tambem achei muito interessante o teu post.

Adoro ler sobre criancas bilingues, isso faz parte da minha rotina. Sou brasileira, moro em Londres ha oito anos e tenho uma filha de dois anos.

Abraco,
Cecilia

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